quarta-feira, 4 de março de 2009

romanização

Na História Universal, designa-se por romanização o processo cultural resultante das invasões do Império Romano na Europa, Ásia e África. Naturalmente, uma das influências foi nas línguas faladas nessas regiões, embora a arquitectura romana também tenha desempenhado um papel fundamental na sua maneira de construir, notabilizando-se, por isso, na História da Arquitectura.
A invasão romana da península Ibérica iniciou-se no contexto da Segunda Guerra Púnica (218 a.C.-201 a.C.), quando as legiões romanas, sob o comando do cônsul Cneio Cornélio Cipião, para ali se movimentaram taticamente, a fim de atacar pela retaguarda os domínios de Cartago na região.
De facto, a influência cartaginesa na península Ibérica permitia um expressivo reforço, tanto de suprimentos quanto de homens, a Cartago. A estratégia do Senado romano visava, desse modo, a enfraquecer as forças cartaginesas, afastando os seus exércitos da península Itálica.
O primeiro combate importante entre Cartagineses e Romanos ocorreu em Cissa (218 a.C.), provavelmente próximo a Tarraco, embora os historiadores tenham tentado identificá-la com Guissona, na actual província de Lérida. Os Cartagineses, a mando de Hannon, foram derrotados pelas forças romanas a mando do próprio Cneio Cipião. O caudilho dos Ilergetes, Indíbil, que combatia aliado aos Cartagineses, terá sido então capturado. Não obstante, quando a vitória de Cneio parecia concretizada, acudiu Asdrúbal Barca, com reforços, que dispersaram os romanos sem, no entanto, os derrotar. Assim, as forças opostas regressavam às suas bases militares — os Cartagineses a Cartago Nova (actual Cartagena) e os Romanos a Tarraco — e já só no ano seguinte a frota de Cenio Cipião venceu Asdrúbal Barca na boca do rio Ebro. Pouco depois chegaram reforços de Itália dirigidos por Públio Cipião, permitindo o avanço dos Romanos em direcção a Sagunto.
Atribui-se a Cneio e Públio a fortificação de Tarraco e o estabelecimento de um porto militar. A muralha da cidade foi provavelmente construída sobre a anterior muralha ciclópica, já que nela se observam algumas marcas de trabalho da pedra tipicamente ibéricas.
Ainda no ano de 216 a.C. há registo de combates entre Cneio e Públio contra os iberos, provavelmente de tribos a Sul do rio Ebro, embora sem grandes consequências para Roma. Já no ano seguinte, receberam os Cartagineses reforços, encabeçados por Himilcão, dando-se novo combate nas bocas do Ebro, segundo parece, próximo de Amposta ou Sant Carles, naquela que ficou conhecida como a batalha de Hibera, ou Ibera. Para prejuízo de Cartago, deste confronto saíram os Romanos vencedores.
A rebelião de Sifax em 214 a.C., aliado de Roma, na Numídia (Argel e Orán) obrigaria Asdrúbal a regressar a África com as suas melhores tropas, deixando o caminho livre para a progressão romana. Asdrúbal Barca, já em África, conseguiria o apoio de Gala, um outro rei númida, senhor da região de Constantina e, com a ajuda deste (e do seu filho, Massinissa), conseguindo a derrota de Sifax. Regressou em 211 a.C. à península fazendo-se acompanhar de Massinissa e os seus guerreiros númidas.
Algures entre 214 e 211 a.C., Cneio e Público regressaram ao Ebro. Sabe-se que em 211 a.C. os Cipiões incluíam no seu exército um forte contingente de milhares de mercenários celtiberos. Estes actuavam, frequentemente, como soldados de fortuna.
As forças cartaginesas estruturaram-se em três exércitos, comandados respectivamente pelos irmãos Barca (Asdrúbal e Magão) e ainda por outro Asdrúbal, filho do comandante cartaginês Aníbal Giscão, morto durante a Primeira Guerra Púnica. Do lado oposto, os romanos organizaram-se em três grupos, comandados por Cneio, Públio, e ainda por Tito Fonteio. Asdrúbal Giscão e Magão Barca, apoiados pelo númida Massinissa, conseguem derrotar Públio Cipião, matando-o. Cneio Cipião, em pleno combate a 211 a.C., assiste à deserção dos mercenários celtiberos — a quem Asdrúbal Barca ofereceu uma soma maior daquela paga por Roma — e é obrigado a retirar-se. Faleceu durante a retirada, deixando os Cartagineses aptos a atravessar o rio Ebro, que só puderam ser contidos graças à intervenção de Gaio Márcio Séptimo, eleito como general pelas tropas. O cenário destes combates é, porém, incerto, embora sabendo-se que Indíbil combatia novamente do lado dos cartagineses.


Cipião, o Africano.
No ano seguinte, 210 a.C., foi enviada uma expedição dirigida por Cláudio Nerão com vista à captura de Asdrúbal Barca. Não obstante, Cláudio traiu a sua palavra e fugiu desonrosamente. O Senado insistiu, e enviou novo exército ao rio Ebro, para conter o avanço das tropas cartaginesas em direcção à Itália. O líder desta nova força foi o célebre Cipião Africano, filho do general homónimo, morto em combate em 211 a.C. Cipião fazia-se acompanhar do pró-consul Marco Silano (que deveria suceder a Cláudio Nerão) e do conselheiro, Caio Lelio, chefe de esquadra. À sua chegada, os exércitos cartagineses encontravam-se instalados da seguinte forma: aquele dirigido por Asdrúbal Barca encontrava-se próximo da nascente do rio Tejo; o exército de Asdrúbal Giscão na região da futura Lusitânia, próximo à actual cidade de Lisboa; o exército de Magão encontrava-se na zona do estreito de Gibraltar. Cipião, aparentemente desprezando a importância da região do Ebro, atacou directamente Cartago Nova por terra e por mar. A capital púnica peninsular, cuja guarnição, insuficiente, era dirigida por outro Magão, foi obrigada a ceder, sendo ocupada pelos Romanos. Rapidamente, retornou Cipião a Tarraco antes que Asdrúbal atingisse as desguarnecidas linhas do Ebro.
Esta operação marcou o início da submissão de grande parte da Hispânia Ulterior. Cipião soube convencer vários caudilhos ibéricos, até então aliados a Cartago, como Edecão (inimizado com Cartago desde que a sua mulher e filhos foram tomados como reféns), Indíbel (pela mesma razão), e Mandónio (declarado inimigo por Asdrúbal Barca).
No Inverno de 209 a 208, Cipião avançou em direcção a Sul, chocando com o exército de Asdrúbal Barca (que, por sua vez, se deslocava para Norte), próximo a Santo Tomé (Jaén), na aldeia de Baecula, onde decorreu a batalha de Baecula. Não obstante Cipião reclamar para si a vitória, que permanece por confirmar, o facto é que Asdrúbal Barca prosseguiu o avanço em direcção ao Norte com a maior parte das suas tropas, atingindo o sopé das montanhas dos Pirenéus. Sabe-se que, desta forma, Asdrúbal cruzou os Pirinéus passando pelo região basca, provavelmente na tentativa de conseguir uma aliança com estes embora, em todo o caso, os bascos não dispusessem de grandes meios de oposição faze à força cartaginesa. Asdrúbal acamparia no Sul da Gália entrando na Itália em 209 a.C.. No ano seguinte Magão transladou as suas tropas para as Baleares e Asdrúbal Giscão manteve-se na Lusitânia.
Em 207 a.C., reorganizados os cartagineses e com novos reforços procedentes da África e dirigos por Hannon, conseguiram recuperar a maior parte do Sul da península. Após a submissão desta zona por Hannon, uniu-se Asdrúbal Giscão na região, e Magão regressou à península. Pouco depois, as forças de Hannon e Magão foram derrotadas pelo exército romano a mando de Marco Silano, de onde resultou a captura de Hannon e a retirada de Giscão e Magão para as principais praças-fortes até receberem novos reforços desde África (206 a.C.). Entretanto recrutaram contingenes de indígenas e confrontaram-se com os Romanos na batalha de Ilipa (na zona da actual Alcalá del Río), na província de Sevilha. Nesta batalha vence Cipião sem sombra de dúvida, obrigando nova retirada de Magão e Asdrúbal para Gades. Cipião tornara-se assim dono de todo o sul peninsular, e pôde cruzar a África onde se encontrou com o rei númida Sifax, que já o havia visitado na Hispânia.
Aproveitando uma convalescença de Cipião, algumas unidades do exército aproveitaram-se para amotinar-se exigindo os salários em atraso; por sua vez, a oportunidade foi aproveitada pelos Ilergetes (a mando de Indíbil) e pelos Ausetanos (a mando de Mandónio) que iniciariam uma rebelião dirigida, sobretudo, aos pró-cônsules L. Lentulo e L. Manlio. Cipião soube conter o motim, colocando um ponto final na revolta dos ibéricos. Mandónio foi preso e executado (205 a.C.), mas Indíbil conseguiu escapar.
Magão e Asdrúbal abandonaram Gades com todos os seus barcos e tropas para acudir a Aníbal, já em Itália. Roma tornava-se assim senhora de todo o Sul da Hispânia, desde os Pirenéus ao Algarve, no seguimento da costa e, para o interior, de Huesca em direcção ao Sul até ao rio Ebro e para Este em direcção ao mar. A partir de então, iniciou-se a administração romana da península, inicialmente com o caráter de ocupação militar, com o fim de manutenção da ordem e de exploração dos recursos naturais das regiões ocupadas, doravante integradas no território controlado pela República. Assim, a porção ocupada ficava desde já dividida em duas províncias: a Citerior, a Norte, e Ulterior, a Sul, com capital em Córdoba. A administração ficava incumbida a dois pretores bianuais que, de resto, nem sempre se cumpria.

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