Desconhece-se a data e o local onde terá nascido Camões. Admite-se que nasceu entre 1517 e 1525. A sua família é de origem galega que se fixou em Vilar de Nantes, freguesia do concelho de Chaves e mais tarde terá ido para Coimbra e para Lisboa, lugares que reivindicam ser o local de seu nascimento. Frequentemente fala-se também em Alenquer, mas isto deve-se a uma má interpretação de um dos seus sonetos, onde Camões escreveu "[…] / Criou-me Portugal na verde e cara / pátria minha Alenquer […]". Esta frase isolada e a escrita do soneto na primeira pessoa levam as pessoas a pensarem que é Camões a falar de si. Mas a leitura atenta e completa do soneto permite concluir que os factos aí presentes não se associam à vida de Camões. Camões escreveu o soneto como se fosse um indivíduo, provavelmente um conhecido seu, que já teria morrido com menos de 25 anos de idade, longe da pátria, tendo como sepultura o mar.
O pai de Camões foi Simão Vaz de Camões e sua mãe Ana de Sá e Macedo. Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões, e por via materna, aparentado com o navegador Vasco da Gama.
Entre 1542 e 1545, viveu em Lisboa, trocando os estudos pelo ambiente da corte de D. João III, conquistando fama de poeta e feitio altivo.
Viveu algum tempo em Coimbra onde teria freqüentado o curso de Humanidades, talvez no Mosteiro de Santa Cruz, onde tinha um tio padre, D. Bento de Camões. Não há registos da passagem do poeta por Coimbra. Em todo o caso, a cultura refinada dos seus escritos torna a única universidade de Portugal do tempo como o lugar mais provável de seus estudos.
Ligado à casa do Conde de Linhares, D. Francisco de Noronha, e talvez preceptor do filho D. António, segue para Ceuta em 1549 e por lá fica até 1551. Era uma aventura comum na carreira militar dos jovens, recordada na elegia Aquela que de amor descomedido. Num cerco, teve um dos olhos vazados por uma seta pela fúria rara de Marte. Ainda assim, manteve as suas potencialidades de combate.
De regresso a Lisboa, não tarda em retomar a vida boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria irmã do Rei D. Manuel I. Teria caído em desgraça, a ponto de ser desterrado para Constância. Não há, porém, o menor fundamento documental de que tal fato tenha ocorrido.
Segundo Manuel de Faria e Sousa seu principal biografa e comentador, em 1550 Camões destina-se a passar à Índia. Vem no registo da Armada de esse ano, que Faria encontrou o seguinte : " Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria ; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses." Ia assentado entre os homens de armas. Afinal não embarcou.
No dia de Corpus Christi de 1552 entra em rixa, e fere um certo Gonçalo Borges. Preso, é libertado por carta régia de perdão de 3 de Março de 1553 : " é um mancebo e pobre e me vai este ano servir à Índia". Embarca então na armada de Fernão Álvares Cabral, a 24 desse mesmo mês. O mesmo Manuel de Faria e Sousa encontrou o registo dessa Armada onde vem, sob o título "Gente de guerra", o seguinte assento: " Fernando Casado, filho de Manuel Casado e de Branca Queimada, moradores em Lisboa, escudeiro; foi em seu lugar Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, escudeiro; e recebeu 2400 como os demais".
Oriente
Chegado a Goa, Camões toma parte na expedição do vice-rei D. Afonso de Noronha contra o rei de Chembe, conhecido como o "rei da pimenta". A esta primeira expedição refere-se a elegia "O Poeta Simónides falando". Depois Camões fixou-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma "madrasta de todos os homens honestos" e ali estudou os costumes de cristãos e hindus, e a geografia e a história locais. Tomou parte em mais expedições militares. Entre Fevereiro e Novembro de 1554 integrou a Armada de D. Fernando de Meneses, constituída por mais de 1000 homens e 30 embarcações, ao Golfo Pérsico, aí sentindo a amargura expressa na canção "Junto de um seco, fero e estéril monte". No regresso foi nomeado "provedor-mor dos defuntos nas partes da China" pelo Governador Francisco Barreto, para quem escreveria o "Auto do Filodemo".
Em 1556 partiu para Macau, onde continuou os seus escritos. Viveu numa gruta, hoje com o seu nome, e aí terá escrito boa parte d'Os Lusíadas. Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito da obra, então já adiantada (cf. Lus., X, 128). No desastre teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas "Sôbolos rios".
Regressou a Goa antes de Agosto de 1560 e pediu a protecção do Vice-rei D. Constantino de Bragança num longo poema em oitavas. Aprisionado por dívidas, dirigiu súplicas em verso ao novo Vice-rei, D. Francisco Coutinho, conde do Redondo, para ser liberto.
Camões na prisão de Goa, Moreaux pinxit et lithDe regresso ao reino, em 1568 fez escala na ilha de Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de amigos" (Década 8.ª da Ásia). Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada. Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em Abril de 1570, na nau Santa Clara : "Em Cascais, as naus fundeadas esperavam que Diogo do Couto voltasse de Almeirim, onde fora solicitar de el-rei a sua entrada no Tejo, porque Lisboa estava fechada com a peste. Logo que a ordem veio, a Santa Clara"" entrou a barra." (Oliveira Martins)
Em 1580, em Lisboa, assistiu à partida do exército português para o norte de África.
Faleceu numa casa de Santana, em Lisboa, sendo enterrado numa campa rasa numa das igrejas das proximidades. Os seus restos encontram-se atualmente no Mosteiro dos Jerónimos.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Lourenço de Medicis- Biografia
Neto de Cosme de Médici (o Velho), era filho de Pedro de Cosme de Médici e de Lucrécia Tornabuoni. Casou-se em 4 de junho de 1469 com Clarice Orsini, chamada Leo, nascida em 1450 e morta em 20 de julho de 1488. Era filha de Giacomo Orsini di Monterotondo. Teve sete filhos, dos quais João de Lourenço de Médici (futuro Papa Leão X). Com a morte de seu pai, em 1469, Lourenço e seu irmão Juliano, foram designados "príncipes do Estado" (em italiano principi dello Stato).
O futuro parecia tranquilo até que em 1478 aconteceu a conspiração dos Pazzi, assim chamada em alusão à família envolvida no movimento, na verdade instigato pelos Salviati, banqueiros do Papa Sisto IV, inimigo dos Médicis. Foi feito um plano para matar os dois irmãos Medici no Duomo de Florença, durante a missa, em 26 de abril, um domingo de Páscoa. Juliano morreu, Lourenço escapou, embora ferido, salvo pelo poeta Poliziano, que o trancou na sacristia.
Os autores do plano, entre eles Francesco Salviati, arcebispo de Pisa, foram linchados pelo povo enfurecido. O Papa Sixto IV, cujo sobrinho Girolamo Riario era cúmplice, interditou a cidade de Florença por causa dos assassinatos de Salviati e dos Pazzi, apoiado pelo rei de Nápoles, Fernando I, conhecido como Dom Ferrante.
Sem ajuda de seus tradicionais aliados de Bolonha e Milão, Lourenço partiu sozinho para Nápoles, em 1480, colocando-se nas mãos de Don Ferrante. Este manteve Lourenço cativo durante três meses, antes de libertá-lo com muitos presentes. Graças a sua coragem e talento diplomático, Lourenço convenceu Don Ferrante de que o Papa poderia também voltar-se contra ele, caso obtivesse muito sucesso no norte. Assim, firma-se a paz ainda em 1480. Com isso, Lourenço forçava o papa a também aceitar a paz. Segundo Maquiavel, Lourenço expôs a própria vida para restaurar a paz, indo pessoalmente negociar condições favoráveis. E mesmo depois de seu êxito, recusou tudo - desejou ser apenas o mais ilustre dos cidadãos de Florença. Com exceção de Siena, toda a Toscana passara a aceitar o governo de Florença, que oferecia o espetáculo de um extenso principado, governado por uma república de cidadãos livres e iguais.
Em geral, Lourenço manteve a politica de seu avô, embora tenha sido menos prudente e mais disposto à tirania. Dotado de grande inteligência, governou em um clima de prosperidade pública, aumentando a influência de sua família por toda a Itália, e manteve as instituições republicanas em Florença, ainda que só na aparência: na verdade, Lourenço foi virtualmente um tirano. Utilizava-se de espiões, interferia na vida privada dos cidadãos mas conseguiu levar o comércio e a indústria de Florença a um nível superior ao de qualquer outra cidade da Europa.
Disseram dele:
"Dirigiu sua hábil diplomacia de modo a obter paz na península, mantendo os cinco Estados principais unidos diante da ameaça crescente de uma invasão vinda dos Alpes. Florença não poderia ter um tirano melhor ou mais agradável, e o mundo jamais viu outro patrono de artistas e letrados como ele."
Protetor de escritores, sábios e artistas, foi o impulsor das primeiras imprensas italianas. Lorenzo iniciou o movimento renascentista, que rejeita a ciência escolástica e teológica, para valorizar a pesquisa e a busca do sentido da vida, colocando o Homem no centro do Universo. Seu palácio tornou-se o centro de uma cultura que, partindo da redescoberta da Antiguidade grega e latina, levará a um extraordinário florescimento das artes e das letras. Os maiores artistas e literatos frequentavam a sua corte, mas o que distinguia Lourenço de outros mecenas da época era a sua ativa participação intelectual nas atividades que promovia. Foi um elegante escritor em prosa e um poeta original. Os filósofos Marsílio Ficino e Pico della Mirandola, os poetas Pulci e Poliziano e grandes artistas como Botticelli e Ghirlandaio, eram seus hóspedes habituais. Michelangelo iniciou seus estudos em um ateliê patrocinado por Lourenço.
Retrato de Lourenço, o magníficoA paz de Lodi (1454), que havia colocado um fim às disputas entre Veneza e Milão, havia trazido o equilíbrio entre os estados italianos. Em grande parte, tal equilíbrio foi mantido graças às habilidades diplomáticas de Lourenço, considerado "o fiel da balança". De fato, procurava proteger o eixo formado por Florença, Milão e Nápoles das ambições venezianas e da ambigüidade papal. O clima de relativa paz também favoreceu o Renascimento.
Organizador de festas suntuosas, seus gastos excessivos puseram em perigo a fortuna dos Médici e despertaram a ira de Jerônimo Savonarola. Ao final da vida, Lourenço entrou em conflito com Savonarola, mas a lenda que este lhe recusou absolvição antes de morrer a menos que restaurasse a liberdade da cidade de Florença é afastada pelos historiadores — é mesmo lenda.
Após sua morte, seu filho e sucessor Pedro II (Piero) (1471-1503) é expulso de Florença por uma revolta instigada por Savonarola, em 1494. O equilíbrio político é rompido e as rivalidades entre os estados italianos acabaram por dar espaço ao envolvimento de potências estrangeiras nas disputas.
O futuro parecia tranquilo até que em 1478 aconteceu a conspiração dos Pazzi, assim chamada em alusão à família envolvida no movimento, na verdade instigato pelos Salviati, banqueiros do Papa Sisto IV, inimigo dos Médicis. Foi feito um plano para matar os dois irmãos Medici no Duomo de Florença, durante a missa, em 26 de abril, um domingo de Páscoa. Juliano morreu, Lourenço escapou, embora ferido, salvo pelo poeta Poliziano, que o trancou na sacristia.
Os autores do plano, entre eles Francesco Salviati, arcebispo de Pisa, foram linchados pelo povo enfurecido. O Papa Sixto IV, cujo sobrinho Girolamo Riario era cúmplice, interditou a cidade de Florença por causa dos assassinatos de Salviati e dos Pazzi, apoiado pelo rei de Nápoles, Fernando I, conhecido como Dom Ferrante.
Sem ajuda de seus tradicionais aliados de Bolonha e Milão, Lourenço partiu sozinho para Nápoles, em 1480, colocando-se nas mãos de Don Ferrante. Este manteve Lourenço cativo durante três meses, antes de libertá-lo com muitos presentes. Graças a sua coragem e talento diplomático, Lourenço convenceu Don Ferrante de que o Papa poderia também voltar-se contra ele, caso obtivesse muito sucesso no norte. Assim, firma-se a paz ainda em 1480. Com isso, Lourenço forçava o papa a também aceitar a paz. Segundo Maquiavel, Lourenço expôs a própria vida para restaurar a paz, indo pessoalmente negociar condições favoráveis. E mesmo depois de seu êxito, recusou tudo - desejou ser apenas o mais ilustre dos cidadãos de Florença. Com exceção de Siena, toda a Toscana passara a aceitar o governo de Florença, que oferecia o espetáculo de um extenso principado, governado por uma república de cidadãos livres e iguais.
Em geral, Lourenço manteve a politica de seu avô, embora tenha sido menos prudente e mais disposto à tirania. Dotado de grande inteligência, governou em um clima de prosperidade pública, aumentando a influência de sua família por toda a Itália, e manteve as instituições republicanas em Florença, ainda que só na aparência: na verdade, Lourenço foi virtualmente um tirano. Utilizava-se de espiões, interferia na vida privada dos cidadãos mas conseguiu levar o comércio e a indústria de Florença a um nível superior ao de qualquer outra cidade da Europa.
Disseram dele:
"Dirigiu sua hábil diplomacia de modo a obter paz na península, mantendo os cinco Estados principais unidos diante da ameaça crescente de uma invasão vinda dos Alpes. Florença não poderia ter um tirano melhor ou mais agradável, e o mundo jamais viu outro patrono de artistas e letrados como ele."
Protetor de escritores, sábios e artistas, foi o impulsor das primeiras imprensas italianas. Lorenzo iniciou o movimento renascentista, que rejeita a ciência escolástica e teológica, para valorizar a pesquisa e a busca do sentido da vida, colocando o Homem no centro do Universo. Seu palácio tornou-se o centro de uma cultura que, partindo da redescoberta da Antiguidade grega e latina, levará a um extraordinário florescimento das artes e das letras. Os maiores artistas e literatos frequentavam a sua corte, mas o que distinguia Lourenço de outros mecenas da época era a sua ativa participação intelectual nas atividades que promovia. Foi um elegante escritor em prosa e um poeta original. Os filósofos Marsílio Ficino e Pico della Mirandola, os poetas Pulci e Poliziano e grandes artistas como Botticelli e Ghirlandaio, eram seus hóspedes habituais. Michelangelo iniciou seus estudos em um ateliê patrocinado por Lourenço.
Retrato de Lourenço, o magníficoA paz de Lodi (1454), que havia colocado um fim às disputas entre Veneza e Milão, havia trazido o equilíbrio entre os estados italianos. Em grande parte, tal equilíbrio foi mantido graças às habilidades diplomáticas de Lourenço, considerado "o fiel da balança". De fato, procurava proteger o eixo formado por Florença, Milão e Nápoles das ambições venezianas e da ambigüidade papal. O clima de relativa paz também favoreceu o Renascimento.
Organizador de festas suntuosas, seus gastos excessivos puseram em perigo a fortuna dos Médici e despertaram a ira de Jerônimo Savonarola. Ao final da vida, Lourenço entrou em conflito com Savonarola, mas a lenda que este lhe recusou absolvição antes de morrer a menos que restaurasse a liberdade da cidade de Florença é afastada pelos historiadores — é mesmo lenda.
Após sua morte, seu filho e sucessor Pedro II (Piero) (1471-1503) é expulso de Florença por uma revolta instigada por Savonarola, em 1494. O equilíbrio político é rompido e as rivalidades entre os estados italianos acabaram por dar espaço ao envolvimento de potências estrangeiras nas disputas.
Biografia de Gutemberg
Foi filho do comerciante Friele Gensfleisch zu Laden, que adotaria mais tarde o nome "zum Gutenberg", homônimo da comunidade para onde a família se tinha transferido.
Desde jovem revelou uma forte inclinação pela leitura, lendo todos os livros que os pais possuíam em casa. Os livros, na época, eram escritos à mão, por monges, alunos e escribas e cada exemplar demorava meses a ser preparado, sendo o seu preço elevadíssimo e inacessível para a maioria das pessoas.
Trabalhou como joalheiro, onde dominou a arte da construção de moldes e da fundição de ouro e prata; por essa experiência os seus tipos eram excelentes, inclusive artísticamente.
Em 1434, Gutenberg mudou-se para Estrasburgo onde permaneceu vários anos. Depois de regressar à Mogúncia, associou-se com um comerciante que o financiou para realizar a impressão da Bíblia.
Não se conhece muito sobre os últimos anos da vida de Gutenberg. Sabe-se que morreu a 3 de fevereiro de 1468.
Gutenberg é considerado o inventor dos tipos móveis de chumbo fundido, mais duradouros e resistentes do que os fabricados em madeira, e portanto reutilizáveis que conferiram uma enorme versatilidade ao processo de elaboração de livros e outros trabalhos impressos e permitiram a sua massificação.
A imprensa é outra das contribuições de Gutenberg; com anterioridade se tinham empregado, também desde a época de Suméria, discos ou cilindros sobre os quais se tinha lavrado o negativo do texto a imprimir que geralmente era só a rubrica do dono do cilindro e outorgava certeza de autenticidade às tabletas que a levavam. As imprensas na Idade Média eram simples tabelas gordas e pesadas ou blocos de pedra que se apoiavam sobre a matriz de impressão já entintada para transferir sua imagem ao pergaminho ou papel. A imprensa de Gutenberg é uma adaptação daquelas usadas para espremer o suco das uvas na fabricação do vinho, com as quais Gutenberg estava familiarizado, pois Mogúncia, onde nasceu e viveu, está no vale do Reno, uma região vinícola desde a época dos romanos
Desde jovem revelou uma forte inclinação pela leitura, lendo todos os livros que os pais possuíam em casa. Os livros, na época, eram escritos à mão, por monges, alunos e escribas e cada exemplar demorava meses a ser preparado, sendo o seu preço elevadíssimo e inacessível para a maioria das pessoas.
Trabalhou como joalheiro, onde dominou a arte da construção de moldes e da fundição de ouro e prata; por essa experiência os seus tipos eram excelentes, inclusive artísticamente.
Em 1434, Gutenberg mudou-se para Estrasburgo onde permaneceu vários anos. Depois de regressar à Mogúncia, associou-se com um comerciante que o financiou para realizar a impressão da Bíblia.
Não se conhece muito sobre os últimos anos da vida de Gutenberg. Sabe-se que morreu a 3 de fevereiro de 1468.
Gutenberg é considerado o inventor dos tipos móveis de chumbo fundido, mais duradouros e resistentes do que os fabricados em madeira, e portanto reutilizáveis que conferiram uma enorme versatilidade ao processo de elaboração de livros e outros trabalhos impressos e permitiram a sua massificação.
A imprensa é outra das contribuições de Gutenberg; com anterioridade se tinham empregado, também desde a época de Suméria, discos ou cilindros sobre os quais se tinha lavrado o negativo do texto a imprimir que geralmente era só a rubrica do dono do cilindro e outorgava certeza de autenticidade às tabletas que a levavam. As imprensas na Idade Média eram simples tabelas gordas e pesadas ou blocos de pedra que se apoiavam sobre a matriz de impressão já entintada para transferir sua imagem ao pergaminho ou papel. A imprensa de Gutenberg é uma adaptação daquelas usadas para espremer o suco das uvas na fabricação do vinho, com as quais Gutenberg estava familiarizado, pois Mogúncia, onde nasceu e viveu, está no vale do Reno, uma região vinícola desde a época dos romanos
Pedro Nunes
Um dos maiores expoentes da geração posterior à de Duarte Pacheco é Pedro Nunes, matemático, cosmógrafo e professor da Universidade de Coimbra (1502-1578).
O que melhor o permite destacar na nossa cultura renascentista é o facto de ter sido o único lente da Universidade a enfrentar resolutamente as grandes questões da filosofia natural, tal como foram equacionadas pela dinâmica dos Descobrimentos, contribuindo poderosamente para introduzir o rigor da geometria e da matemática no horizonte da cultura portuguesa do século XVI, fazendo questão de o expressar de forma explícita, ao fazer alusão, no De crepusculis à «maioria dos filósofos do nosso tempo, que consideram de somenos o conhecimento da matemática».
Possuindo inegável génio especulativo, conhecedor profundo dos tratados gregos e medievais sobre geometria e matemática, P.N. era cosmógrafo, emprego que o obrigou a trabalhar de forma muito estreita com os pilotos e navegadores portugueses que na altura sulcavam os mares do mundo.
É nesta concateação sistemática entre a teoria e a prática que devemos situar uma das razões de êxito da aventura da expansão marítima, aspecto de que o Matemático tinha plena consciência, ao escrever no seu Tratado em defensão da carta de marear que as nossas Descobertas «não se fizeram a acertar, mas partiam os nossos mareantes muy ensinados e prouidos de estormentos e regras de astrologia e geometria», tema a que corresponde a sua atitude básica ao fazer profissão de fé no «entendimento e na imaginação», como fontes de invenção e descoberta científica, tomando a imaginação não no sentido literário do termo, mas sim no sentido filosófico de especulação, como sucedeu nos cálculos que formulou para a determinação das latitudes por meio das alturas extrameridianas do sol, que embora matematicamente exactos se mostraram insuficientes do ponto de vista da sua aplicação prática nos navios de longo curso, depois dos testes efectuados por D. João de Castro.
O âmbito de utilização da matemática e da geometria já não se restringia, como na ciência grega, aos fenómenos celestes e ao espaço supralunar, não sendo agora o espaço infralunar o universo da imperfeição e da imprecisão. Legitima-se portanto a utilização sistemática da linguagem do cálculo e da demonstração aos fenómenos da natureza, tanto no plano da astronomia (que Pedro Nunes depurara de ficções astrológicas, ao escrever no De crepusculis que mais não eram do que uma «crendice vã e quase rejeitada que emite juizos sobre a vida e a fortuna»), como no da geografia e da náutica, arrostando de frente com práticas por estimativa e com a justamente designada «estrutura do mundo do mais-ou-menos», revelando Nunes nos seus prefácios o quanto era forte a resistência dos pilotos a superarem antigos hábitos de imprecisão, rindo-se dos seus cálculos e não aceitando de ânimo leve a intromissão da geometria no universo dos seus saberes por estimativa.
No entanto, foi porventura em virtude dessa particular atenção perante as questões práticas, que o génio de Nunes não se alçou à definição de métodos gerais de investigação. De facto, ainda não encontramos nos seus textos a concepção da matemática como linguagem capaz de nos guindar à explicação global do universo, nem a teorização do modo como actua a matemática entre a formulação da hipótese e a respectiva verificação experimental.
A história da matemática em Portugal esteve no seu início, precisamente através da obra de Pedro Nunes, profundamente ligada à ciência náutica, sendo o seu papel entendido como o de uma ciência de que o espírito se serve para, «explicar claramente» os assuntos, «mediante princípios certíssimos e evidentíssimos» .
Sendo apesar de tudo um homem de gabinete que comentava e anotava textos de Sacrobosco e de Ptolomeu, P.N. tinha consciência clara dessa "pressão" da utilidade prática sobre o teórico e o especulativo, bem como do tipo de público a que se dirigia, razão por que deu grande ênfase à facilidade de aprendizagem e de comunicação, escrevendo, em momento revelador do seu Libro de Algebra e referindo-se aos contadores da Fazenda Real : «vendo eu quanto seja útil para o uso destes homens esta arte que trata de números e medidas, pretendi nesta minha obra que, sem preceder doutrina especulativa, na qual se gasta mais tempo, a possam per si aprender e em pouco tempo, e facilmente, sem mais ajuda de mestre». O mesmo viria a suceder com o seu Tratado da Esfera, ao justificar escrevê-lo em português, pois nele se incluiam «aqueles princípios que deve ter qualquer pessoa que em cosmografia deseja saber alguma cousa».
Digna de nota neste mesmo domínio de difusão dos raciocínios matemáticos é a sua crítica incluída também no Libro de Álgebra àqueles matemáticos que, para ganharem fama e autoridade, nos ofereciam as suas descobertas deixando na sombra «os discursos que fizeram até as encontrarem», sendo certo, como disse no Tratado da Esfera, que «o bem, quanto mais comum e universal, tanto é mais excelente», razão porque justificou e elaboração de alguns dos seus textos em castelhano, «por ser língua mais comum em toda a Espanha que a nossa», e em português, como acabámos de referir.
Em todo o caso, o que pretendemos expressar é que a obra de Nunes, possuindo embora um vincado pendor especulativo que o prende num diálogo fecundo aos tratadistas clássicos, não foi movida pela preocupação desinteressada de explicar o sistema do universo no âmbito de uma investigação fundamental, mas sobretudo pela motivação de garantir o sucesso imprescindível dos Descobrimentos.
A herança sobre que trabalha é muito vincadamente a dos cosmógrafos e filósofos antigos, com destaque para Ptolomeu, Aristóteles e Euclides, embora sempre sem enjeitar a descoberta de novas bases de conhecimento e novas e mais rigorosas formas de demonstração: «o meu método de demonstração é, confesso, por vezes diferente do empregado pelos antigos e doutos autores», confessa no De crepusculis.
Quanto a Copérnico, cuja obra P.N. conhecia bem, devemos ter em conta que as suas concepções só viriam a ser reconhecidas mais tarde, através das descobertas científicas de Galileu. Em todo o caso, não deixa de ser sintomático o extremo cuidado com que o matemático português se-lhe refere, sem nunca se pronunciar sobre a falsidade ou veracidade das suas doutrinas, sendo certo que nunca enjeitou formular juízos dessa natureza, como sucedeu com o matemático Oroncio Fineu, que acusou de elaborar sobre bases falsas e que por isso rejeitou em toda a linha, no De erratis Orontii Finei, sendo também certo que a aceitação da hipótese de Copérnico o obrigaria a refundir as bases em que fundou toda a sua obra.
As obras de Pedro Nunes devem agrupar-se em duas grandes secções: 1- traduções e comentários; 2- obras propriamente originais.
No primeiro caso temos o Tratado da Esfera (1537), tradução para português do De sphera, composto em latim no século XIII pelo monge inglês João de Sacrobosco, obra cuja importância se adivinha por ser um resumo da Almagesto de Ptolomeu e dos Elementos de Astronomia de Alfragano, representando assim um manual didáctico das noções fundamentais de cosmografia e astronomia, à maneira das summulae medievais. No entanto, P.N. pulverizou o texto com numerosas anotações e comentários pessoais, tanto de rectificação, esclarecimento e actualização do texto, como de erudição e de crítica.
O volume do Tratado da Esfera contém ainda mais dois opúsculos, constituindo traduções anotadas e comentadas. No primeiro caso temos as versões da Teórica do Sol e da Lua, de Jorge Purbáquio, e do Livro I da Geografia de Cláudio Ptolomeu. No caso das obras propriamente originais, começamos por referir dois escritos modelares quanto ao tipo de colaboração entre o seu génio de geómetra e de cosmógrafo e a prática dos pilotos. Referimo-nos ao Tratado de Certas Dúvidas de Navegação, e ao Tratado em Defensão da Carta de Marear.
Nestas obras Nunes ocupa-se das célebres linhas de rumo (loxodromias), bem como das cartas hidrográficas planas e do regimento da altura, temas que viria a aprofundar ao longo da sua vida, elaborando-os depois já não em português mas em latim, dirigindo-se já não apenas aos pilotos, mas também aos sábios da Europa.
Entre as obras originais de grande vulto devemos destacar o De crepusculis (1542), onde, como refere, «meditando e investigando descobri coisas que em parte alguma li, e não mereciam crédito se não fossem demonstradas», referindo-se ao seu estudo sobre a variação da duração do crepúsculo em diferentes zonas climáticas do globo, oferecendo-nos aqui uma elaborada consideração científica, por via da demonstração geométrica, de problemas de filosofia natural.
O que estava em causa nesta obra era demonstrar três questões esenciais que o fenómeno dos crepúsculos suscitava: 1- determinação da duração do crepúsculo, num dado lugar da terra e para uma dada posição do sol; 2- determinação da variação dos crepúsculos com a latitude dos lugares e com a declinação do sol; 3- determinar a duração do crepúsculo mínimo para um dado lugar da terra.
Em 1567 publicou o já aqui referido Libro de Álgebra en Aritmética y Geometria, que tem o mérito de ser a primeira obra exclusivamente dedicada a assuntos de álgebra publicada entre nós, onde discorre, muitas vezes com visão crítica e em desacordo, pelos Elementos de Euclides, pela Suma Aritmética de Frei Lucas de Burgo, pela Practica Aritmética de Cardan e pela Algebra de Tartaglia.
Finalmente, já em 1952, o Professor Joaquim de Carvalho trouxe à luz do dia uma obra até então inédita do autor, com o título Defensão do Tratado de Rumação do Globo para a Arte de Navegar, confirmando a importância da náutica nos primeiros passos da história da matemática em Portugal.
Entre as descobertas técnicas que dessa colaboração resultaram na obra de P. N. deve destacar-se, para além do anel graduado (indicando o valor dos ângulos expresso em graus, estando os quadrantes divididos em 45, em vez de 90 partes iguais), o instrumento de sombras (destinado a medir a altura do sol), e o nónio, destinado a medir fracções do grau, o qual, associado ao astrolábio, viria a revelar-se de grande utilidade para a ciência náutica portuguesa.
Obras
A melhor edição das suas obras é a da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa, 1940-1960), tendo sido publicados até ao presente os volumes I-II-III e IV, sendo de destacar em cada um destes volumes as anotações e estudos introdutórios feitos por Joaquim de Carvalho, Manuel António Peres Júnior e Pedro José da Cunha. Vol. I - Tratado da Sphera: Astronomici Introductorii De Spaera Epitome per Petrum Nonium Salaciensem; Vol. II - De Crepusculis liber unus; Allacen Arabis vetustissimi Liber De Crepusculis, Gerando Cremonensi interprete; Vol. III - De Erratis Orontii Finaei; Vol. IV - Libro de Algebra en Aritmetica y Geometria.
Bibliografia
Pedro Calafate, «Pedro Nunes», Logos-Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa-São Paulo, 1989-92 (contém bibliografia extensa); António Ribeiro dos Santos, «Memória sobre a vida e escritos de Pedro Nunes», in Memórias de Literatura Portuguesa, vol. VII, Lisboa, 1808, pp. 250-283. Francisco Gomes Teixeira, Históra das Matemáticas em Portugal, Lisboa, 1934. Id., «Elogio Histórico de Pedro Nunes», in Panegíricos e Conferências, Coimbra, 1925, p. 1-83. Joaquim de Carvalho, Pedro Nunes, Mestre do Cardeal Infante D. Henrique, Lisboa, 1950. Id., «O Pensamento Português da Idade Média e do Renascimento», in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. II, Lisboa, 1982, pp. 373-384. Id., «A Actividade científica da Universidade de Coimbra» in ibid., vol. II, pp. 329-340. Id., «Influência dos Descobrimentos e da Civilização na morfologia da ciência portuguesa do século XVI», ibid., vol. II; José Sebastião da Silva Dias, Os Descobrimentos e a problemática cultural do século XVI, Lisboa, 1982. Luís de Albuquerque, Ciência e Experiência nos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1983. Id., Os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1985. Id., Introdução à História dos Descobrimentos, Coimbra, 1962. Id., As Navegações e a sua projecção na Ciência e na Cultura, Lisboa, 1987. Id., Sobre as prioridades de Pedro Nunes, Lisboa, 1972. M. de Sousa Ventura, Vida e Obra de Pedro Nunes, Lisboa, 1985.
O que melhor o permite destacar na nossa cultura renascentista é o facto de ter sido o único lente da Universidade a enfrentar resolutamente as grandes questões da filosofia natural, tal como foram equacionadas pela dinâmica dos Descobrimentos, contribuindo poderosamente para introduzir o rigor da geometria e da matemática no horizonte da cultura portuguesa do século XVI, fazendo questão de o expressar de forma explícita, ao fazer alusão, no De crepusculis à «maioria dos filósofos do nosso tempo, que consideram de somenos o conhecimento da matemática».
Possuindo inegável génio especulativo, conhecedor profundo dos tratados gregos e medievais sobre geometria e matemática, P.N. era cosmógrafo, emprego que o obrigou a trabalhar de forma muito estreita com os pilotos e navegadores portugueses que na altura sulcavam os mares do mundo.
É nesta concateação sistemática entre a teoria e a prática que devemos situar uma das razões de êxito da aventura da expansão marítima, aspecto de que o Matemático tinha plena consciência, ao escrever no seu Tratado em defensão da carta de marear que as nossas Descobertas «não se fizeram a acertar, mas partiam os nossos mareantes muy ensinados e prouidos de estormentos e regras de astrologia e geometria», tema a que corresponde a sua atitude básica ao fazer profissão de fé no «entendimento e na imaginação», como fontes de invenção e descoberta científica, tomando a imaginação não no sentido literário do termo, mas sim no sentido filosófico de especulação, como sucedeu nos cálculos que formulou para a determinação das latitudes por meio das alturas extrameridianas do sol, que embora matematicamente exactos se mostraram insuficientes do ponto de vista da sua aplicação prática nos navios de longo curso, depois dos testes efectuados por D. João de Castro.
O âmbito de utilização da matemática e da geometria já não se restringia, como na ciência grega, aos fenómenos celestes e ao espaço supralunar, não sendo agora o espaço infralunar o universo da imperfeição e da imprecisão. Legitima-se portanto a utilização sistemática da linguagem do cálculo e da demonstração aos fenómenos da natureza, tanto no plano da astronomia (que Pedro Nunes depurara de ficções astrológicas, ao escrever no De crepusculis que mais não eram do que uma «crendice vã e quase rejeitada que emite juizos sobre a vida e a fortuna»), como no da geografia e da náutica, arrostando de frente com práticas por estimativa e com a justamente designada «estrutura do mundo do mais-ou-menos», revelando Nunes nos seus prefácios o quanto era forte a resistência dos pilotos a superarem antigos hábitos de imprecisão, rindo-se dos seus cálculos e não aceitando de ânimo leve a intromissão da geometria no universo dos seus saberes por estimativa.
No entanto, foi porventura em virtude dessa particular atenção perante as questões práticas, que o génio de Nunes não se alçou à definição de métodos gerais de investigação. De facto, ainda não encontramos nos seus textos a concepção da matemática como linguagem capaz de nos guindar à explicação global do universo, nem a teorização do modo como actua a matemática entre a formulação da hipótese e a respectiva verificação experimental.
A história da matemática em Portugal esteve no seu início, precisamente através da obra de Pedro Nunes, profundamente ligada à ciência náutica, sendo o seu papel entendido como o de uma ciência de que o espírito se serve para, «explicar claramente» os assuntos, «mediante princípios certíssimos e evidentíssimos» .
Sendo apesar de tudo um homem de gabinete que comentava e anotava textos de Sacrobosco e de Ptolomeu, P.N. tinha consciência clara dessa "pressão" da utilidade prática sobre o teórico e o especulativo, bem como do tipo de público a que se dirigia, razão por que deu grande ênfase à facilidade de aprendizagem e de comunicação, escrevendo, em momento revelador do seu Libro de Algebra e referindo-se aos contadores da Fazenda Real : «vendo eu quanto seja útil para o uso destes homens esta arte que trata de números e medidas, pretendi nesta minha obra que, sem preceder doutrina especulativa, na qual se gasta mais tempo, a possam per si aprender e em pouco tempo, e facilmente, sem mais ajuda de mestre». O mesmo viria a suceder com o seu Tratado da Esfera, ao justificar escrevê-lo em português, pois nele se incluiam «aqueles princípios que deve ter qualquer pessoa que em cosmografia deseja saber alguma cousa».
Digna de nota neste mesmo domínio de difusão dos raciocínios matemáticos é a sua crítica incluída também no Libro de Álgebra àqueles matemáticos que, para ganharem fama e autoridade, nos ofereciam as suas descobertas deixando na sombra «os discursos que fizeram até as encontrarem», sendo certo, como disse no Tratado da Esfera, que «o bem, quanto mais comum e universal, tanto é mais excelente», razão porque justificou e elaboração de alguns dos seus textos em castelhano, «por ser língua mais comum em toda a Espanha que a nossa», e em português, como acabámos de referir.
Em todo o caso, o que pretendemos expressar é que a obra de Nunes, possuindo embora um vincado pendor especulativo que o prende num diálogo fecundo aos tratadistas clássicos, não foi movida pela preocupação desinteressada de explicar o sistema do universo no âmbito de uma investigação fundamental, mas sobretudo pela motivação de garantir o sucesso imprescindível dos Descobrimentos.
A herança sobre que trabalha é muito vincadamente a dos cosmógrafos e filósofos antigos, com destaque para Ptolomeu, Aristóteles e Euclides, embora sempre sem enjeitar a descoberta de novas bases de conhecimento e novas e mais rigorosas formas de demonstração: «o meu método de demonstração é, confesso, por vezes diferente do empregado pelos antigos e doutos autores», confessa no De crepusculis.
Quanto a Copérnico, cuja obra P.N. conhecia bem, devemos ter em conta que as suas concepções só viriam a ser reconhecidas mais tarde, através das descobertas científicas de Galileu. Em todo o caso, não deixa de ser sintomático o extremo cuidado com que o matemático português se-lhe refere, sem nunca se pronunciar sobre a falsidade ou veracidade das suas doutrinas, sendo certo que nunca enjeitou formular juízos dessa natureza, como sucedeu com o matemático Oroncio Fineu, que acusou de elaborar sobre bases falsas e que por isso rejeitou em toda a linha, no De erratis Orontii Finei, sendo também certo que a aceitação da hipótese de Copérnico o obrigaria a refundir as bases em que fundou toda a sua obra.
As obras de Pedro Nunes devem agrupar-se em duas grandes secções: 1- traduções e comentários; 2- obras propriamente originais.
No primeiro caso temos o Tratado da Esfera (1537), tradução para português do De sphera, composto em latim no século XIII pelo monge inglês João de Sacrobosco, obra cuja importância se adivinha por ser um resumo da Almagesto de Ptolomeu e dos Elementos de Astronomia de Alfragano, representando assim um manual didáctico das noções fundamentais de cosmografia e astronomia, à maneira das summulae medievais. No entanto, P.N. pulverizou o texto com numerosas anotações e comentários pessoais, tanto de rectificação, esclarecimento e actualização do texto, como de erudição e de crítica.
O volume do Tratado da Esfera contém ainda mais dois opúsculos, constituindo traduções anotadas e comentadas. No primeiro caso temos as versões da Teórica do Sol e da Lua, de Jorge Purbáquio, e do Livro I da Geografia de Cláudio Ptolomeu. No caso das obras propriamente originais, começamos por referir dois escritos modelares quanto ao tipo de colaboração entre o seu génio de geómetra e de cosmógrafo e a prática dos pilotos. Referimo-nos ao Tratado de Certas Dúvidas de Navegação, e ao Tratado em Defensão da Carta de Marear.
Nestas obras Nunes ocupa-se das célebres linhas de rumo (loxodromias), bem como das cartas hidrográficas planas e do regimento da altura, temas que viria a aprofundar ao longo da sua vida, elaborando-os depois já não em português mas em latim, dirigindo-se já não apenas aos pilotos, mas também aos sábios da Europa.
Entre as obras originais de grande vulto devemos destacar o De crepusculis (1542), onde, como refere, «meditando e investigando descobri coisas que em parte alguma li, e não mereciam crédito se não fossem demonstradas», referindo-se ao seu estudo sobre a variação da duração do crepúsculo em diferentes zonas climáticas do globo, oferecendo-nos aqui uma elaborada consideração científica, por via da demonstração geométrica, de problemas de filosofia natural.
O que estava em causa nesta obra era demonstrar três questões esenciais que o fenómeno dos crepúsculos suscitava: 1- determinação da duração do crepúsculo, num dado lugar da terra e para uma dada posição do sol; 2- determinação da variação dos crepúsculos com a latitude dos lugares e com a declinação do sol; 3- determinar a duração do crepúsculo mínimo para um dado lugar da terra.
Em 1567 publicou o já aqui referido Libro de Álgebra en Aritmética y Geometria, que tem o mérito de ser a primeira obra exclusivamente dedicada a assuntos de álgebra publicada entre nós, onde discorre, muitas vezes com visão crítica e em desacordo, pelos Elementos de Euclides, pela Suma Aritmética de Frei Lucas de Burgo, pela Practica Aritmética de Cardan e pela Algebra de Tartaglia.
Finalmente, já em 1952, o Professor Joaquim de Carvalho trouxe à luz do dia uma obra até então inédita do autor, com o título Defensão do Tratado de Rumação do Globo para a Arte de Navegar, confirmando a importância da náutica nos primeiros passos da história da matemática em Portugal.
Entre as descobertas técnicas que dessa colaboração resultaram na obra de P. N. deve destacar-se, para além do anel graduado (indicando o valor dos ângulos expresso em graus, estando os quadrantes divididos em 45, em vez de 90 partes iguais), o instrumento de sombras (destinado a medir a altura do sol), e o nónio, destinado a medir fracções do grau, o qual, associado ao astrolábio, viria a revelar-se de grande utilidade para a ciência náutica portuguesa.
Obras
A melhor edição das suas obras é a da Academia das Ciências de Lisboa (Lisboa, 1940-1960), tendo sido publicados até ao presente os volumes I-II-III e IV, sendo de destacar em cada um destes volumes as anotações e estudos introdutórios feitos por Joaquim de Carvalho, Manuel António Peres Júnior e Pedro José da Cunha. Vol. I - Tratado da Sphera: Astronomici Introductorii De Spaera Epitome per Petrum Nonium Salaciensem; Vol. II - De Crepusculis liber unus; Allacen Arabis vetustissimi Liber De Crepusculis, Gerando Cremonensi interprete; Vol. III - De Erratis Orontii Finaei; Vol. IV - Libro de Algebra en Aritmetica y Geometria.
Bibliografia
Pedro Calafate, «Pedro Nunes», Logos-Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, Lisboa-São Paulo, 1989-92 (contém bibliografia extensa); António Ribeiro dos Santos, «Memória sobre a vida e escritos de Pedro Nunes», in Memórias de Literatura Portuguesa, vol. VII, Lisboa, 1808, pp. 250-283. Francisco Gomes Teixeira, Históra das Matemáticas em Portugal, Lisboa, 1934. Id., «Elogio Histórico de Pedro Nunes», in Panegíricos e Conferências, Coimbra, 1925, p. 1-83. Joaquim de Carvalho, Pedro Nunes, Mestre do Cardeal Infante D. Henrique, Lisboa, 1950. Id., «O Pensamento Português da Idade Média e do Renascimento», in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. II, Lisboa, 1982, pp. 373-384. Id., «A Actividade científica da Universidade de Coimbra» in ibid., vol. II, pp. 329-340. Id., «Influência dos Descobrimentos e da Civilização na morfologia da ciência portuguesa do século XVI», ibid., vol. II; José Sebastião da Silva Dias, Os Descobrimentos e a problemática cultural do século XVI, Lisboa, 1982. Luís de Albuquerque, Ciência e Experiência nos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1983. Id., Os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1985. Id., Introdução à História dos Descobrimentos, Coimbra, 1962. Id., As Navegações e a sua projecção na Ciência e na Cultura, Lisboa, 1987. Id., Sobre as prioridades de Pedro Nunes, Lisboa, 1972. M. de Sousa Ventura, Vida e Obra de Pedro Nunes, Lisboa, 1985.
Martinho Lutero vida
Martinho Lutero, cujo nome em alemão era Martin Luther ou Luder, era filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann. Mudou-se para Mansfeld, onde seu pai dirigia várias minas de cobre. Tendo sido criado no campo, Hans Luther desejava que seu filho viesse a se tornar um funcionário público; melhorando, assim, as condições da família. Com esse objetivo, enviou o jovem Martinho para escolas em Mansfeld, Magdeburgo e Eisenach.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e recebeu o apelido de "O filósofo". O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos[7]. Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito da mesma Universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, gritou então: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"
Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt, a 17 de julho de 1505.[8].
[editar] Vida monástica e acadêmica
Lutero com a tonsura monástica.O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados[9]
Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar Teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em Estudos bíblicos a 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.[10]
Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
Aos dezessete anos, em 1501, Lutero ingressou na Universidade de Erfurt, onde tocava alaúde e recebeu o apelido de "O filósofo". O jovem estudante graduou-se bacharel em 1502 e concluiu o mestrado em 1505, sendo o segundo entre dezessete candidatos[7]. Seguindo os desejos paternos, inscreveu-se na escola de Direito da mesma Universidade. Mas tudo mudou após uma grande tempestade com descargas elétricas, ocorrida naquele mesmo ano (1505): um raio caiu próximo de onde ele estava passando, ao voltar de uma visita à casa dos pais. Aterrorizado, gritou então: "Ajuda-me, Sant'Ana! Eu me tornarei um monge!"
Tendo sobrevivido aos raios, deixou a faculdade, vendeu todos os seus livros, com exceção dos de Virgílio, e entrou para a ordem dos Agostinianos, de Erfurt, a 17 de julho de 1505.[8].
[editar] Vida monástica e acadêmica
Lutero com a tonsura monástica.O jovem Martinho Lutero dedicou-se por completo à vida no mosteiro, empenhando-se em realizar boas obras a fim de agradar a Deus e servir ao próximo através de orações por suas almas. Dedicou-se intensamente à meditação, às autoflagelações, às muitas horas de oração diárias, às peregrinações e à confissão. Quanto mais tentava ser agradável ao Senhor, mais se dava conta de seus pecados[9]
Johann von Staupitz, o superior de Lutero, concluiu que o jovem necessitava de mais trabalhos, para afastar-se de sua excessiva reflexão. Ordenou, portanto, ao monge que iniciasse uma carreira acadêmica. Em 1507, Lutero foi ordenado sacerdote. Em 1508, começou a lecionar Teologia na Universidade de Wittenberg. Lutero recebeu seu bacharelado em Estudos bíblicos a 19 de março de 1508. Dois anos depois, visitou Roma, de onde regressou bastante decepcionado.[10]
Em 19 de outubro de 1512, Martinho Lutero graduou-se Doutor em Teologia e, em 21 de outubro do mesmo ano, foi "recebido no Senado da Faculdade Teológica" com o título de "Doutor em Bíblia". Em 1515, foi nomeado vigário de sua ordem tendo sob sua autoridade onze monastérios.
Durante esse período, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras - conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia.
Martinho Lutero
Lutero em 1529 por Lucas Cranach
Nome completo Martin Luther
Nascimento 10 de Novembro de 1483
Eisleben, Saxônia-Anhalt
Alemanha
Morte 18 de Fevereiro de 1546 (62 anos)
Eisleben, Saxônia-Anhalt
Alemanha
Ocupação teólogo
Assinatura
Nome completo Martin Luther
Nascimento 10 de Novembro de 1483
Eisleben, Saxônia-Anhalt
Alemanha
Morte 18 de Fevereiro de 1546 (62 anos)
Eisleben, Saxônia-Anhalt
Alemanha
Ocupação teólogo
Assinatura
Joao Calvino
João Calvino (Noyon, 10 de Julho de 1509 — Genebra, 27 de Maio de 1564) foi um teólogo cristão francês. Calvino teve uma influência muito grande durante a Reforma Protestante, uma influência que continua até hoje. Portanto, a forma de Protestantismo que ele ensinou e viveu é conhecido por alguns pelo nome Calvinismo, mesmo se o próprio Calvino teria repudiado contundentemente este apelido. Esta variante do Protestantismo viria a ser bem sucedida em países como a Suíça (país de origem), Países Baixos, África do Sul (entre os africânderes), Inglaterra, Escócia e Estados Unidos da América.
Nascido na Picardia, ao norte da França, foi batizado com o nome de Jean Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvin", pelo qual se tornou conhecido.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana. Citando Bernard Cottret, biógrafo (francês) de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, percursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".[1]
Nascido na Picardia, ao norte da França, foi batizado com o nome de Jean Cauvin. A tradução do apelido de família "Cauvin" para o latim Calvinus deu a origem ao nome "Calvin", pelo qual se tornou conhecido.
Calvino foi inicialmente um humanista. Nunca foi ordenado sacerdote. Depois do seu afastamento da Igreja católica, este intelectual começou a ser visto, gradualmente, como a voz do movimento protestante, pregando em igrejas e acabando por ser reconhecido por muitos como "padre". Vítima das perseguições aos protestantes na França, fugiu para Genebra em 1536, onde faleceu em 1564. Genebra tornou-se definitivamente num centro do protestantismo Europeu e João Calvino permanece até hoje uma figura central da história da cidade e da Suíça.
Martinho Lutero escreveu as suas 95 teses em 1517, quando Calvino tinha oito anos de idade. Para muitos, Calvino terá sido para a língua francesa aquilo que Lutero foi para a língua alemã - uma figura quase paternal. Lutero era dotado de uma retórica mais direta, por vezes grosseira, enquanto que Calvino tinha um estilo de pensamento mais refinado e geométrico, quase de filigrana. Citando Bernard Cottret, biógrafo (francês) de Calvino: "Quando se observa estes dois homens podia-se dizer que cada um deles se insere já num imaginário nacional: Lutero o defensor das liberdades germânicas, o qual se dirige com palavras arrojadas aos senhores feudais da nação alemã; Calvino, o filósofo pré-cartesiano, percursor da língua francesa, de uma severidade clássica, que se identifica pela clareza do estilo".[1]
Biografia de Leonardo da Vinci
Nascimento 15 de abril de 1452
Anchiano, Itália
Morte 2 de maio de 1519 (67 anos)
Amboise, França
Nacionalidade Italiano[nb 2]
Ocupação Atuou em diversas áreas, como pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, matemático, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico, mecânico, inventor, anatomista, escritor, poeta e músico
Escola/tradição Ateliê de Verrocchio
Movimento estético Alto Renascimento
Principais trabalhos Mona Lisa
A Última Ceia
A Virgem das Rochas
Homem Vitruviano
Assinatura
Anchiano, Itália
Morte 2 de maio de 1519 (67 anos)
Amboise, França
Nacionalidade Italiano[nb 2]
Ocupação Atuou em diversas áreas, como pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, matemático, fisiólogo, químico, botânico, geólogo, cartógrafo, físico, mecânico, inventor, anatomista, escritor, poeta e músico
Escola/tradição Ateliê de Verrocchio
Movimento estético Alto Renascimento
Principais trabalhos Mona Lisa
A Última Ceia
A Virgem das Rochas
Homem Vitruviano
Assinatura
Leonardo da Vinci
Leonardo di ser Piero da Vinci (? pron.; Vinci, 15 de abril de 1452 – Cloux, 2 de maio de 1519) foi um polímata italiano, uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento, que se destacou como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.[1][2][3] É ainda conhecido como o precursor da aviação e da balística.[1] Leonardo frequentemente foi descrito como o arquétipo do homem do Renascimento, alguém cuja curiosidade insaciável era igualada apenas pela sua capacidade de invenção.[4] É considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, e como possivelmente a pessoa dotada de talentos mais diversos a ter vivido.[5] Segundo a historiadora de arte Helen Gardner, a profundidade e o alcance de seus interesses não tiveram precedentes e sua mente e personalidade parecem sobre-humanos para nós, e o homem em si [nos parece] misterioso e distante.[4]
Nascido como filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, na região da Florença. Leonardo foi educado no ateliê do renomado pintor florentino, Verrocchio. Passou a maior parte do início de sua vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão; trabalhou posteriormente em Roma, Bolonha e Veneza, e passou seus últimos dias na França, numa casa que lhe foi presenteada pelo rei Francisco I.
Leonardo era, em seu tempo, como até hoje, conhecido principalmente como pintor.[5] Duas de suas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia, estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, e sua fama se compara apenas à Criação de Adão, de Michelangelo.[4] O desenho do Homem Vitruviano, feito por Leonardo, também é tido como um ícone cultural,[6] é foi reproduzido por todas as partes, desde o euro até camisetas. Cerca de quinze de suas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às suas experiências constantes - e frequentemente desastrosas - com novas técnicas, além de sua procrastinação crônica.[nb 3] Ainda assim, estas poucas obras, juntamente com seus cadernos de anotações - que contêm desenhos, diagramas científicos, e seus pensamentos sobre a natureza da pintura - formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo.
Leonardo é reverenciado por sua engenhosidade tecnológica;[5] concebeu ideias muito à frente de seu tempo, como um helicóptero, um tanque de guerra, o uso da energia solar, uma calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das placas tectônicas.[7] Um número relativamente pequeno de seus projetos chegou a ser construído, durante sua vida (muitos nem mesmo eram factíveis),[nb 4] mas algumas de suas invenções menores, como uma bobina automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio, entraram sem crédito algum para o mundo da indústria.[nb 5] Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia, da engenharia civil, da óptica e da hidrodinâmica.[8]
Leonardo da Vinci é considerado por vários o maior gênio da história, devido à sua multiplicidade de talentos para ciências e artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado em 1926 seu QI foi estimado em cerca de 180.[9][10]
Nascido como filho ilegítimo de um notário, Piero da Vinci, e de uma camponesa, Caterina, em Vinci, na região da Florença. Leonardo foi educado no ateliê do renomado pintor florentino, Verrocchio. Passou a maior parte do início de sua vida profissional a serviço de Ludovico Sforza (Ludovico il Moro), em Milão; trabalhou posteriormente em Roma, Bolonha e Veneza, e passou seus últimos dias na França, numa casa que lhe foi presenteada pelo rei Francisco I.
Leonardo era, em seu tempo, como até hoje, conhecido principalmente como pintor.[5] Duas de suas obras, a Mona Lisa e A Última Ceia, estão entre as pinturas mais famosas, mais reproduzidas e mais parodiadas de todos os tempos, e sua fama se compara apenas à Criação de Adão, de Michelangelo.[4] O desenho do Homem Vitruviano, feito por Leonardo, também é tido como um ícone cultural,[6] é foi reproduzido por todas as partes, desde o euro até camisetas. Cerca de quinze de suas pinturas sobreviveram até os dias de hoje; o número pequeno se deve às suas experiências constantes - e frequentemente desastrosas - com novas técnicas, além de sua procrastinação crônica.[nb 3] Ainda assim, estas poucas obras, juntamente com seus cadernos de anotações - que contêm desenhos, diagramas científicos, e seus pensamentos sobre a natureza da pintura - formam uma contribuição às futuras gerações de artistas que só pode ser rivalizada à de seu contemporâneo, Michelangelo.
Leonardo é reverenciado por sua engenhosidade tecnológica;[5] concebeu ideias muito à frente de seu tempo, como um helicóptero, um tanque de guerra, o uso da energia solar, uma calculadora, o casco duplo nas embarcações, e uma teoria rudimentar das placas tectônicas.[7] Um número relativamente pequeno de seus projetos chegou a ser construído, durante sua vida (muitos nem mesmo eram factíveis),[nb 4] mas algumas de suas invenções menores, como uma bobina automática, e um aparelho que testa a resistência à tração de um fio, entraram sem crédito algum para o mundo da indústria.[nb 5] Como cientista, foi responsável por grande avanço do conhecimento nos campos da anatomia, da engenharia civil, da óptica e da hidrodinâmica.[8]
Leonardo da Vinci é considerado por vários o maior gênio da história, devido à sua multiplicidade de talentos para ciências e artes, sua engenhosidade e criatividade, além de suas obras polêmicas. Num estudo realizado em 1926 seu QI foi estimado em cerca de 180.[9][10]
Miguel Ângelo
Só com o sucessor de Leão X, o Papa Clemente VII, Michelangelo encontra novamente um mecenas que o incita a trabalhar arduamente: deverá construir a capela e a tumba dos Medicis, sendo-lhe paga uma pensão mensal três vezes superior à que o artista exigira. Mas o destino insiste em turvar seus raros momentos de tranquilidade: em 1527, a guerra eclode em Florença e Michelangelo, depois de ajudar a projetar as defesas da cidade, prefere fugir, exilando-se por algum tempo em Veneza. Restabelecida a paz, o Papa Clemente, fiel a seu nome, perdoa- Michelangelo, pintor, escultor, poeta, arquitecto, génio italiano. Ele revolucionou a concepção da pintura mural com os afrescos da Capela Sistina; escultor insuperável que, ao lado de Donatello e Verrochio, elevou a escultura italiana a um nível espectacular, atingido apenas pelos gregos. Génio!!!
Michelangelo nasceu a 6 de março de 1475, em Caprese, província florentina. Seu pai, Lodovico di Lionardo Buonarroti Simoni, era um homem violento, "temente de Deus". Sua mãe, Francesca di Neri di Miniato del Sera, morreu quando Michelangelo tinha seis anos. Eram cinco irmãos: Leonardo, Michelangelo, Buonarroto, João Simão e Sigismundo.
Michelangelo foi entregue aos cuidados de uma ama de leite cujo marido era cortador de mármore da aldeia vizinha de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo atribuirá a esse fato sua vocação de escultor. Brincadeira ou não, o certo é que na escola enchia os cadernos de exercícios com desenhos, totalmente desinteressado das lições sobre outras matérias. Por causa disso, mais de uma vez foi espancado pelo pai e pelos irmãos de seu pai, a quem parecia vergonhoso ter um artista na família, justamente uma família de velha e aristocrática linhagem florentina, mencionada nas crônicas locais desde o século XII. E o orgulho familiar jamais abandonará Michelangelo. Ele preferirá a qualquer título, mesmo o mais honroso, a simplicidade altiva de seu nome: "Não sou o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti."Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença. Mas o aprendizado é breve, cerca de um ano, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saída do jovem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto nenhuma prova confirma essa versão.
Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnífico, riquíssimo banqueiro e potector das artes em Florença, mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos. Michelangelo está em pleno ambiente físico e cultural do Renascimento italiano. A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia antiga, seu ideal de beleza - baseado no equilíbrio das formas -, sua concepção de mundo - a filosofia de Platão, Michelangelo adere plenamente a esse mundo. Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitológico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helénicos, mas um escultor grego da verdade. Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos e distantes, reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo.
Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio. Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas conversas sobre filosofia e estética. Mas seu temperamento irônico, sua impaciência com a mediocridade e com a lentidão dos colegas, lhe valem o primeiro - e irreparável - choque com a hostilidade tios invejosos. Ao ridicularizar o trabalho de um companheiro, Torrigiano dei Torrigiani - vaidoso e agressivo -, este desfechou-lhe um golpe tão violento no rosto que lhe achatou para sempre o nariz. Mancha que nunca mais se apagará da sua sensibilidade e da sua retina, a pequena deformação lhe parecerá daí por diante um estigma - o de um mundo que o escorraça por não aceitar a grandeza do seu génio - e também uma mutilação ainda mais dolorosa para quem, como ele, era um sofisticado esteta, que considerava a beleza do corpo uma legítima encarnação divina na forma passageira do ser humano.
Em 1490, Michelangelo tem 15 anos. É o ano em que o monge Savonarola começa a inflamada pregação mística que o levará ao governo de Florença. O anúncio de que a ira Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites. Lourenço, o Magnífico, morre em 1492. Michelangelo deixa o palácio. A revolução estoura em 1494. Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza.
Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Medicis, Michelangelo se acalma. Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo. Lê Petrarca, Boccaccio e Dante. Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença. Esculpe o Cupido Adormecido - obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso - vai a Roma, onde esculpe Baco Bêbedo, Adônis Morrendo. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros - " as vaidades e os anátemas".Logo, porém, a situação se inverte. Os partidários do monge começam a ser perseguidos. Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo - que também se fizera monge durante as prédicas de Savonarola. Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado. Michelangelo se cala. Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos. Mas esculpe a Pietà, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e clássicas. A tristeza instalara-se em Michelangelo. Na primavera de 1501, veio por fim a Florença. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado há 40 anos no recinto pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta, Duccio porém faleceu repentinamente e o mármore ficou à espera. Michelangelo decidiu trabalhá-lo. O resultado foi o colossal Davi, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias. Uma comissão de artistas, entre os quais estavam nada menos que Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos que a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral.
Da mesma época data a primeira pintura (que se conheça) de Michelangelo. Trata-se de um tondo - pintura circular - cujas formas e cores fariam com que, posteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista". É A Sagrada Família. Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relvo". Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II. Começa então o período heróico de sua vida.
A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da antiga Roma com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michelangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobre o esquema da obra e seleccionando os mármores que nela seriam empregados. Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa. E à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquitecto de Júlio II, que fora frequentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de l506, Sua Santidade aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dívidas.
Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Esse recusa, tergiversa. Finalmente, encontra-se com o papa em Bolonha e pede-lhe perdão por ter-se ido.
Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artista de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante."
O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da igreja de São Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruída por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão.
De regresso a Roma, Michelangelo deve responder a novo capricho de Júlio II: decorar a Capela Sistina. O fato de que o mestre era antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir à encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista acaba cedendo mais uma vez. A incumbência - insólita e extravagante - é aceita.
Dia 10 de maio de 1508, começa o gigantesco trabalho. A primeira atitude do artista é recusar o andaime construído especialmente para a obra por Bramante. Determina que se faça outro, segundo suas próprias idéias. Em segundo lugar, manda embora os pintores que lhe haviam sido dados como ajudantes e instrutores na técnica do afresco. Terceiro, resolve pintar não só a cúpula da capela mas também suas paredes. É a fase de Michelangelo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá-lo. O trabalho avança muito lentamente. Durante mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar a concentração do artista para saber se o projecto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" - "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala. Michelangelo tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma de 100 ducados. O artista retoma a tarefa.
No dia de Finados de 1512, Michelangelo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está aí retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de Deus retorcido e retesado no ato supremo da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas que anunciam o Messias.
São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar de Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de milhões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado, Michelangelo regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho; a vista fora especialmente afetada e o mestre cuida então de repousá-la. Mas o repouso é breve: sempre inquieto, Michelangelo volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar; o túmulo monumental de Júlio II. Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o Moisés - considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, Os Escravos, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546.
Como breve foi o repouso, breve foi a paz. O novo papa, Leão X, decide emular seu antecessor como potector das artes. Chama Michelangelo e oferece-lhe a edificação da fachada da Igreja de São Lourenço, em Florença. E o artista, estimulado por sua rivalidade com Raffaello - que se aproveitara de sua ausência e da morte de Bramante para tornar-se o soberano da arte em Roma -, aceita o convite, sabendo que precisaria suspender os trabalhos relacionados com a tumba de Júlio II. O pior, porém, é que após anos de esforços ingentíssimos, após mil e uma dificuldades, Leão X anulou o contrato com o artista.lhe os "desvarios"" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Medicis. Com furor c desespero, Michelangelo dedica-se à obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da poderosa família, ele dá de ombros; "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?".
Uma a uma emergem de suas mãos miraculosas as alegorias da Ação, do Pensamento e as quatro estátuas da base: O Dia, A Noite, A Aurora e O Crepúsculo, terminadas em 1531, Toda a amargura de suas desilusões, a angústia dos dias perdidos e das esperanças arruinadas, toda a melancolia e todo o pessimismo reflectem-se nessas obras magníficas e sombrias.
Com a morte de Clemente VII em 1534, Michelangelo - odiado pelo Duque Alexandre de Medicis - abandona mais uma vez Florença. Agora, porém, seu exílio em Roma será definitivo. Nunca mais seus olhos contemplarão a cidade que tanto amou. Vinte e um anos haviam passado desde sua última estada em Roma: nesse período, produzira três estátuas do monumento inacabado de Júlio II, sete estátuas inacabadas do monumento inacabado dos Medicis, a fachada inacabada da Igreja de São Lourenço, o Cristo inacabado da Igreja de Santa Maria sobre Minerva e um Apolo inacabado para Baccio Valori.
Nesses vinte e um anos, perdeu a saúde, a energia, a fé na arte e na pátria. Nada parecia mantê-lo vivo: nem a criação, nem a ambição, nela a esperança. Michelangelo tem 60 anos e um desejo: morrer.
Roma, entretanto, lhe trará novo alento: a amizade com Tommaso dei Cavalieri e com a Marquesa Vittoria Colonna, afastando-o do tormento e da solidão, permite-lhe aceitar a oferta de Paulo III, que o nomeia arquitecto-chefe, escultor e pintor do palácio apostólico. De 1536 a 1541, Michelangelo pinta os afrescos do Juízo Universal na Capela Sistina. Nada melhor que suas próprias idéias sobre pintura para definir essa obra e o homem que a criou: "A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu ofício. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..."
Terminados os afrescos da Sistina, Michelangelo crê enfim poder acabar o monumento de Júlio II. Mas o papa, insaciável, exige que o ancião de 70 anos pinte os afrescos da Capela Paulina - A Crucifixão de São Pedro e A Conversão de São Paulo. Concluídas em 1550, foram suas últimas pinturas. Durante todo esse tempo, os herdeiros do Papa Júlio II não cessaram de perseguir o artista pelo não cumprimento dos vários contratos por ele assinados para o término da obra. O quinto contrato seria cumprido. Em janeiro de 1545, inaugurava-se o monumento. O que restara do plano primitivo? Apenas o Moisés, no início um detalhe do projeto, agora o centro do monumento executado. De qualquer forma, Michelangelo estava livre do pesadelo de toda a sua vida.
Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa actividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projceto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projectou também o Capitólio - onde se reúne o Senado italiano - e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam).
Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão. De pé, aos 88 anos de idade, ele elabora penosa e amorosamente uma Pietà, até que a doença o acorrente em definitivo ao leito, onde - com absoluta lucidez - dita um testamento comovente, pedindo "regressar pelo menos já morto" à sua adorada e inesquecível Florença, doando sua alma a Deus e seu corpo à terra. O seu génio, ele já o tinha legado à humanidade.
Michelangelo nasceu a 6 de março de 1475, em Caprese, província florentina. Seu pai, Lodovico di Lionardo Buonarroti Simoni, era um homem violento, "temente de Deus". Sua mãe, Francesca di Neri di Miniato del Sera, morreu quando Michelangelo tinha seis anos. Eram cinco irmãos: Leonardo, Michelangelo, Buonarroto, João Simão e Sigismundo.
Michelangelo foi entregue aos cuidados de uma ama de leite cujo marido era cortador de mármore da aldeia vizinha de Settignano. Mais tarde, brincando, Michelangelo atribuirá a esse fato sua vocação de escultor. Brincadeira ou não, o certo é que na escola enchia os cadernos de exercícios com desenhos, totalmente desinteressado das lições sobre outras matérias. Por causa disso, mais de uma vez foi espancado pelo pai e pelos irmãos de seu pai, a quem parecia vergonhoso ter um artista na família, justamente uma família de velha e aristocrática linhagem florentina, mencionada nas crônicas locais desde o século XII. E o orgulho familiar jamais abandonará Michelangelo. Ele preferirá a qualquer título, mesmo o mais honroso, a simplicidade altiva de seu nome: "Não sou o escultor Michelangelo. Sou Michelangelo Buonarroti."Aos 13 anos, sua obstinação vence a do pai: ingressa, como aprendiz, no estúdio de Domenico Ghirlandaio, já então considerado mestre da pintura de Florença. Mas o aprendizado é breve, cerca de um ano, pois Michelangelo irrita-se com o ritmo do ensino, que lhe parece moroso, e além disso considera a pintura uma arte limitada: o que busca é uma expressão mais ampla e monumental. Diz-se também que o motivo da saída do jovem foi outro: seus primeiros trabalhos revelaram-se tão bons que o professor, enciumado, preferiu afastar o aluno. Entretanto nenhuma prova confirma essa versão.
Deixando Ghirlandaio, Michelangelo entra para a escola de escultura que o mecenas Lourenço, o Magnífico, riquíssimo banqueiro e potector das artes em Florença, mantinha nos jardins de São Marcos. Lourenço interessa-se pelo novo estudante: aloja-o no palácio, faz com que sente à mesa de seus filhos. Michelangelo está em pleno ambiente físico e cultural do Renascimento italiano. A atmosfera, poética e erudita, evoca a magnificência da Grécia antiga, seu ideal de beleza - baseado no equilíbrio das formas -, sua concepção de mundo - a filosofia de Platão, Michelangelo adere plenamente a esse mundo. Ao produzir O Combate dos Centauros, baixo-relevo de tema mitológico, sente-se não um artista italiano inspirado nos padrões clássicos helénicos, mas um escultor grego da verdade. Em seu primeiro trabalho na pedra, com seus frisos de adolescentes atléticos e distantes, reinam a força e a beleza impassíveis, como divindades do Olimpo.
Na Igreja del Carmine, Michelangelo copia os afrescos de Masaccio. Nos jardins de Lourenço, participa de requintadas conversas sobre filosofia e estética. Mas seu temperamento irônico, sua impaciência com a mediocridade e com a lentidão dos colegas, lhe valem o primeiro - e irreparável - choque com a hostilidade tios invejosos. Ao ridicularizar o trabalho de um companheiro, Torrigiano dei Torrigiani - vaidoso e agressivo -, este desfechou-lhe um golpe tão violento no rosto que lhe achatou para sempre o nariz. Mancha que nunca mais se apagará da sua sensibilidade e da sua retina, a pequena deformação lhe parecerá daí por diante um estigma - o de um mundo que o escorraça por não aceitar a grandeza do seu génio - e também uma mutilação ainda mais dolorosa para quem, como ele, era um sofisticado esteta, que considerava a beleza do corpo uma legítima encarnação divina na forma passageira do ser humano.
Em 1490, Michelangelo tem 15 anos. É o ano em que o monge Savonarola começa a inflamada pregação mística que o levará ao governo de Florença. O anúncio de que a ira Deus em breve desceria sobre a cidade atemoriza o jovem artista: sonhos e terrores apocalípticos povoam suas noites. Lourenço, o Magnífico, morre em 1492. Michelangelo deixa o palácio. A revolução estoura em 1494. Michelangelo, um mês antes, fugira para Veneza.
Longe do caos em que se convertera a aristocrática cidade dos Medicis, Michelangelo se acalma. Passa o inverno em Bolonha, esquece Savonarola e suas profecias, redescobre a beleza do mundo. Lê Petrarca, Boccaccio e Dante. Na primavera do ano seguinte, passa novamente por Florença. Esculpe o Cupido Adormecido - obra "pagã" num ambiente tomado de fervor religioso - vai a Roma, onde esculpe Baco Bêbedo, Adônis Morrendo. Enquanto isso, em Florença, Savonarola faz queimar livros e quadros - " as vaidades e os anátemas".Logo, porém, a situação se inverte. Os partidários do monge começam a ser perseguidos. Entre eles, está um irmão de Michelangelo, Leonardo - que também se fizera monge durante as prédicas de Savonarola. Michelangelo não volta. Em 1498, Savonarola é queimado. Michelangelo se cala. Nenhuma de suas cartas faz menção a esses fatos. Mas esculpe a Pietà, onde uma melancolia indescritível envolve as figuras belas e clássicas. A tristeza instalara-se em Michelangelo. Na primavera de 1501, veio por fim a Florença. Nesse mesmo ano, surgirá de suas mãos a primeira obra madura. Um gigantesco bloco de mármore jazia abandonado há 40 anos no recinto pertencente à catedral da cidade. Tinha sido entregue ao escultor Duccio, que nele deveria talhar a figura de um profeta, Duccio porém faleceu repentinamente e o mármore ficou à espera. Michelangelo decidiu trabalhá-lo. O resultado foi o colossal Davi, símbolo de sua luta contra o Destino, como Davi ante Golias. Uma comissão de artistas, entre os quais estavam nada menos que Leonardo da Vinci, Botticelli, Filippino Lippi e Perugino, interroga Michelangelo sobre o lugar onde deveria ficar a estátua que deslumbra a todos que a contemplam. A resposta do mestre é segura: na praça central de Florença, defronte ao Palácio da Senhoria. E para esse local a obra foi transportada. Entretanto, o povo da cidade, chocado com a nudez da figura, lapidou a estátua, em nome da moral.
Da mesma época data a primeira pintura (que se conheça) de Michelangelo. Trata-se de um tondo - pintura circular - cujas formas e cores fariam com que, posteriormente, os críticos o definissem como obra precursora da escola "maneirista". É A Sagrada Família. Pode-se ver que, mesmo com o pincel, Michelangelo não deixa de ser escultor. Ou, como ele próprio dizia: "Uma pintura é tanto melhor quanto mais se aproxime do relvo". Em março de 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II. Começa então o período heróico de sua vida.
A idéia de Júlio II era a de mandar construir para si uma tumba monumental que recordasse a magnificência da antiga Roma com seus mausoléus suntuosos e solenes. Michelangelo aceita a incumbência com entusiasmo e durante oito meses fica em Carrara, meditando sobre o esquema da obra e seleccionando os mármores que nela seriam empregados. Enormes blocos de pedra começam a chegar a Roma e se acumulam na Praça de São Pedro, no Vaticano. O assombro do povo mistura-se à vaidade do papa. E à inveja de outros artistas. Bramante de Urbino, arquitecto de Júlio II, que fora frequentes vezes criticado com palavras sarcásticas por Michelangelo, consegue persuadir o papa a que desista do projeto e o substitua por outro: a reconstrução da Praça de São Pedro. Em janeiro de l506, Sua Santidade aceita os conselhos de Bramante. Sem sequer consultar Michelangelo, decide suspender tudo: o artista está humilhado e cheio de dívidas.
Michelangelo parte de Roma. No dia seguinte, Bramante, vitorioso, começa a edificação da praça. No entanto, Júlio II quer o mestre de volta. Esse recusa, tergiversa. Finalmente, encontra-se com o papa em Bolonha e pede-lhe perdão por ter-se ido.
Uma nova incumbência aguarda Michelangelo: executar uma colossal estátua de bronze para ser erguida em Bolonha. São inúteis os protestos do artista de que nada entende da fundição desse metal. Que aprenda, responde-lhe o caprichoso papa. Durante 15 meses, Michelangelo vive mil acidentes na criação da obra. Escreve ao irmão: "Mal tenho tempo de comer. Dia e noite, só penso no trabalho. Já passei por tais sofrimentos e ainda passo por outros que, acredito, se tivesse de fazer a estátua mais uma vez, minha vida não seria suficiente: é trabalho para um gigante."
O resultado não compensou. A estátua de Júlio II, erguida em fevereiro de 1508 diante da igreja de São Petrônio, teria apenas quatro anos de vida. Em dezembro de 1511, foi destruída por uma facção política inimiga do papa e seus escombros vendidos a um certo Alfonso d'Este, que deles fez um canhão.
De regresso a Roma, Michelangelo deve responder a novo capricho de Júlio II: decorar a Capela Sistina. O fato de que o mestre era antes de tudo um escultor não familiarizado com as técnicas do afresco não entrava nas cogitações do papa. Todas as tentativas de fugir à encomenda são inúteis. O Santo Padre insiste - segundo alguns críticos, manejado habilmente por Bramante que, dessa forma, desejaria arruinar para sempre a carreira de Michelangelo - e o artista acaba cedendo mais uma vez. A incumbência - insólita e extravagante - é aceita.
Dia 10 de maio de 1508, começa o gigantesco trabalho. A primeira atitude do artista é recusar o andaime construído especialmente para a obra por Bramante. Determina que se faça outro, segundo suas próprias idéias. Em segundo lugar, manda embora os pintores que lhe haviam sido dados como ajudantes e instrutores na técnica do afresco. Terceiro, resolve pintar não só a cúpula da capela mas também suas paredes. É a fase de Michelangelo herói. Herói trágico. Tal como Prometeu, rouba ao Olimpo o fogo de sua genial inspiração, embora os abutres das vicissitudes humanas não deixem de acossá-lo. O trabalho avança muito lentamente. Durante mais de um ano, o papa não lhe paga um cêntimo sequer. Sua família o atormenta com constantes pedidos de dinheiro. A substância frágil das paredes faz logo derreter as primeiras figuras que esboçara. Impaciente com a demora da obra, o papa constantemente vem perturbar a concentração do artista para saber se o projecto frutificava. O diálogo é sempre o mesmo: "Quando estará pronta a minha capela?" - "Quando eu puder!" Irritado, Júlio II faz toda a sorte de ameaças. Chega a agredir o artista a golpes de bengala. Michelangelo tenta fugir de Roma. O papa pede desculpas e faz com que lhe seja entregue - por fim - a soma de 100 ducados. O artista retoma a tarefa.
No dia de Finados de 1512, Michelangelo retira os andaimes que encobriam a perspectiva total da obra e admite o papa à capela. A decoração estava pronta. A data dedicada aos mortos convinha bem à inauguração dessa pintura terrível, plena do Espírito do Deus que cria e que mata. Todo o Antigo Testamento está aí retratado em centenas de figuras e imagens dramáticas, de incomparável vigor e originalidade de concepção: o corpo vigoroso de Deus retorcido e retesado no ato supremo da criação do Universo; Adão que recebe do Senhor o toque vivificador de Sua mão estendida, tocando os dedos ainda inertes do primeiro homem; Adão e Eva expulsos do Paraíso a embriaguez de Noé e o Dilúvio Universal; os episódios bíblicos da história do povo hebreu e os profetas que anunciam o Messias.
São visões de um esplendor nunca dantes sonhado, imagens de beleza e genialidade, momentos supremos do poder criador do homem. No olhar de Júlio II naquele dia de Finados de 1512 já se prenunciavam os olhares de milhões de pessoas que, ao longo dos séculos e vindas de todas as partes do mundo, gente de todas as raças, de todas as religiões, de todas as ideologias políticas, se deslumbrarão diante da mais célebre obra de arte do mundo ocidental.Vencedor e vencido, glorioso e alquebrado, Michelangelo regressa a Florença. Vivendo em retiro, dedica-se a recobrar as forças minadas pelo prolongado trabalho; a vista fora especialmente afetada e o mestre cuida então de repousá-la. Mas o repouso é breve: sempre inquieto, Michelangelo volta a entregar-se ao projeto que jamais deixara de amar; o túmulo monumental de Júlio II. Morto o papa em fevereiro de 1513, no mês seguinte o artista assina um contrato comprometendo-se a executar a obra em sete anos. Dela fariam parte 32 grandes estátuas. Uma logo fica pronta. É o Moisés - considerada a sua mais perfeita obra de escultura. Segue-se outra, Os Escravos, que se acha no Museu do Louvre, doada ao soberano Francisco I pelo florentino Roberto Strozzi, exilado na França, que por sua vez a recebera diretamente do mestre em 1546.
Como breve foi o repouso, breve foi a paz. O novo papa, Leão X, decide emular seu antecessor como potector das artes. Chama Michelangelo e oferece-lhe a edificação da fachada da Igreja de São Lourenço, em Florença. E o artista, estimulado por sua rivalidade com Raffaello - que se aproveitara de sua ausência e da morte de Bramante para tornar-se o soberano da arte em Roma -, aceita o convite, sabendo que precisaria suspender os trabalhos relacionados com a tumba de Júlio II. O pior, porém, é que após anos de esforços ingentíssimos, após mil e uma dificuldades, Leão X anulou o contrato com o artista.lhe os "desvarios"" políticos e o estimula a reencetar o trabalho da Capela dos Medicis. Com furor c desespero, Michelangelo dedica-se à obra. Quando o interrogam sobre a escassa semelhança das estátuas com os membros da poderosa família, ele dá de ombros; "Quem perceberá este detalhe daqui a dez séculos?".
Uma a uma emergem de suas mãos miraculosas as alegorias da Ação, do Pensamento e as quatro estátuas da base: O Dia, A Noite, A Aurora e O Crepúsculo, terminadas em 1531, Toda a amargura de suas desilusões, a angústia dos dias perdidos e das esperanças arruinadas, toda a melancolia e todo o pessimismo reflectem-se nessas obras magníficas e sombrias.
Com a morte de Clemente VII em 1534, Michelangelo - odiado pelo Duque Alexandre de Medicis - abandona mais uma vez Florença. Agora, porém, seu exílio em Roma será definitivo. Nunca mais seus olhos contemplarão a cidade que tanto amou. Vinte e um anos haviam passado desde sua última estada em Roma: nesse período, produzira três estátuas do monumento inacabado de Júlio II, sete estátuas inacabadas do monumento inacabado dos Medicis, a fachada inacabada da Igreja de São Lourenço, o Cristo inacabado da Igreja de Santa Maria sobre Minerva e um Apolo inacabado para Baccio Valori.
Nesses vinte e um anos, perdeu a saúde, a energia, a fé na arte e na pátria. Nada parecia mantê-lo vivo: nem a criação, nem a ambição, nela a esperança. Michelangelo tem 60 anos e um desejo: morrer.
Roma, entretanto, lhe trará novo alento: a amizade com Tommaso dei Cavalieri e com a Marquesa Vittoria Colonna, afastando-o do tormento e da solidão, permite-lhe aceitar a oferta de Paulo III, que o nomeia arquitecto-chefe, escultor e pintor do palácio apostólico. De 1536 a 1541, Michelangelo pinta os afrescos do Juízo Universal na Capela Sistina. Nada melhor que suas próprias idéias sobre pintura para definir essa obra e o homem que a criou: "A boa pintura aproxima-se de Deus e une-se a Ele... Não é mais do que uma cópia das suas perfeições, uma sombra do seu pincel, sua música, sua melodia... Por isso não basta que o pintor seja um grande e hábil mestre de seu ofício. Penso ser mais importante a pureza e a santidade de sua vida, tanto quanto possível, a fim de que o Espírito Santo guie seus pensamentos..."
Terminados os afrescos da Sistina, Michelangelo crê enfim poder acabar o monumento de Júlio II. Mas o papa, insaciável, exige que o ancião de 70 anos pinte os afrescos da Capela Paulina - A Crucifixão de São Pedro e A Conversão de São Paulo. Concluídas em 1550, foram suas últimas pinturas. Durante todo esse tempo, os herdeiros do Papa Júlio II não cessaram de perseguir o artista pelo não cumprimento dos vários contratos por ele assinados para o término da obra. O quinto contrato seria cumprido. Em janeiro de 1545, inaugurava-se o monumento. O que restara do plano primitivo? Apenas o Moisés, no início um detalhe do projeto, agora o centro do monumento executado. De qualquer forma, Michelangelo estava livre do pesadelo de toda a sua vida.
Os últimos anos do mestre ainda foram fecundos, embora numa actividade diferente: a arquitetura. Dedicou-se ao projceto de São Pedro, tarefa que lhe custou exaustivos esforços devido às intrigas que lhe tramaram seus acirrados inimigos. Projectou também o Capitólio - onde se reúne o Senado italiano - e a Igreja de São João dos Florentinos (cujos planos se perderam).
Ainda encontra energias para esculpir. Renegando cada vez mais o mundo, Michelangelo busca uma união mística com o Cristo. Sua criação, como a de Botticelli no final da vida, é toda voltada para as cenas da Paixão. De pé, aos 88 anos de idade, ele elabora penosa e amorosamente uma Pietà, até que a doença o acorrente em definitivo ao leito, onde - com absoluta lucidez - dita um testamento comovente, pedindo "regressar pelo menos já morto" à sua adorada e inesquecível Florença, doando sua alma a Deus e seu corpo à terra. O seu génio, ele já o tinha legado à humanidade.
Miguel Ângelo
“Miguel Ângelo Buonarroti (1475 – 1564). Escultor, pintor, arquitecto e poeta italiano, nascido em Caprese, um dos nomes maiores da história da arte. A sua versatilidade em vários âmbitos, fez com que o seu nome quase rivalize com o de Leonardo Da Vinci, como representante do renascimento.
Também conhecido como ll Divino, Miguel Ângelo ainda não tinha trinta anos e já tinha esculpido duas obras de referência de toda a história da escultura; David e Pietá.
Da sua autoria, são igualmente de entre outras grandes obras, os soberbos frescos da Capela Sistina.
Também conhecido como ll Divino, Miguel Ângelo ainda não tinha trinta anos e já tinha esculpido duas obras de referência de toda a história da escultura; David e Pietá.
Da sua autoria, são igualmente de entre outras grandes obras, os soberbos frescos da Capela Sistina.
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